"Sofrimento humano e misericórdia divina." Isaías 38
Preparado e Ministrado por Gerson Berzins
Caros irmãos e amigos: É bom estarmos mais uma vez juntos, para estes estudos no livro do profeta Isaías. Estaremos hoje nos voltando para os capítulos 36 a 39.
Estes capítulos são diferentes do restante do livro, pois nestes prevalece o registro de fatos históricos, embora fatos ligados ao profeta, visto que Isaías teve participação relevante nos acontecimentos que aqui se relatam.
A importância destes fatos se confirma quando verificamos que eles estão também apresentados no livro de II Reis, caps.18 a 20 e no livro de II Crônicas, cap.32. Duas marcas dos dias destes acontecimentos:
(1) Jerusalém era governada pelo rei Ezequias, um rei que promoveu uma grande restauração espiritual em Judá, e ficou conhecido como um rei que depositou totalmente sua confiança em Deus (IIRs.18.5).
(2) Se viviam os dias do apogeu da expansão assíria em toda a região. Damasco já estava dominada pelos assírios.
Samária já não existia mais e os judeus do reino do Norte, após resistirem por três anos ao cerco assírio (IIRs.17.5), agora já estavam deportados para outras partes do grande território controlado por Nínive.
Mas os assírios não estavam ainda contentes com o tamanho das suas possessões e prosseguiam em direção ao Sul, procurando eliminar toda a resistência dos que não queriam se submeter ao poderio de Nínive.
Assim, comandados pelo próprio rei Senaqueribe, os assírios entraram em Judá, tomaram muitas cidades fortificadas do Reino do Sul (IIRs18.13), e se estabeleceram em Laquis, uma cidade fortificada de Judá que fica apenas a 48 km de Jerusalém. Ezequias se humilhou diante de Senaqueribe e lhe enviou ouro e prata como tributo para tentar deter a fúria dos assírios.
Jerusalém estava fragilizada. Ezequias tinha tomado providencias para proteger a cidade, reforçando os muros, construindo um segundo muro externo e tapando as fontes de água fora da cidade, para que os invasores não tivessem água a sua disposição em um eventual cerco (IICr.32.3-5).
Mas, o que era uma cidade sozinha frente ao exército mais poderoso da época? As próprias crônicas assírias demonstraram quão crítica era a situação. O rei Senaqueribe escreveu: “Ezequias, o judeu… encerrei-o como um pássaro engaiolado dentro de sua capital real, Jerusalém..” E então temos o relato dos capítulos 36 e 37 de Isaías. Senaqueribe mandou um seu general, Rabsaqué e muitas tropas subirem a Jerusalém. Provavelmente procurando evitar mais uma batalha, Rabsaqué tentou negociar a entrega da cidade. Com grandes habilidades de convencimento e política, Rabsaqué procurou conquistar a simpatia dos habitantes da cidade que se apinhavam nos muros, e assim tê-los como aliados, para mais rapidamente conseguir do rei Ezequias o que desejava.. Rabsaqué argumentou que não havia de quem Ezequias poderia esperar ajuda e lhe mandou dizer: “Que confiança é essa em que te estribas?” (36.4).
Argumentou o general de Senaqueribe que o Egito não podia ajudar Jerusalém, pois o Faraó, aqui depreciativamente chamado de “bordão de cana quebrada”, também estava sob pressão.
E quanto a Deus, não haveria o que esperar ajuda pois o próprio Deus, diz Rabsaqué, já tinha dado provas seguidas de apoio aos assírios nos seus intentos de conquistar o mundo.
Os assírios criam que cumpriam ordens divinas nas suas investidas de expansão (36.10).
Nesta situação, uma decisão terrível devia ser tomada pelo rei Ezequias: entregar a cidade e evitar uma guerra ou não entregar a cidade e com baixas chances de sucesso procurar defendê-la, enfrentando o poderoso exército que já estava às suas portas.
É em tal situação que podemos ver o quanto o rei Ezequias confiava em Deus. Ele se cobriu de sacos, entrou na casa do Senhor, e também enviou mensageiros para apresentarem a situação ao profeta Isaías.
A oração de Ezequias que vemos no cap.37, a partir do v.15 nos mostra a dependência do rei de Deus.
E Deus ouviu Ezequias e através do profeta Isaías lhe foi anunciado que os assírios não prevaleceriam.
Disse o profeta: “Portanto assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade, nem lançará flecha alguma; tampouco virá perante ela com escudos, ou levantará contra ela tranqueiras.
Pelo caminho por onde veio, por este voltará; mas nesta cidade não entrará, diz o Senhor.”(37.34-35) - E assim foi.
Temos lições relevantes a tirar deste relato impressionante. Uma delas: De que valem os planos humanos diante da soberania divina? A mais poderosa e bem aparelhada organização humana enfrentando uma fragilizada e quase indefesa cidade.
Quem prevalecerá? Prevalecerá quem o Senhor ajudar. E quando o Senhor ajuda, mesmo o exército invencível pode se tornar, em uma noite, em um cemitério de 185 mil corpos. Outra lição a considerarmos vem do exemplo de Ezequias: Mesmo quando não há mais recursos humanos a serem buscados, podemos colocar os nossos desafios diante do Senhor Deus e esperar pela sua resposta.
Voltando à oração de Ezequias, percebemos a sua desorientação sobre o que fazer frente ao que se via do avanço assírio, mas Deus lhe respondeu.
Os capítulos seguintes, 38 e 39 apresentam cada um mais um episódio da vida de Ezequias, onde também houve a intervenção do profeta Isaías.
No capítulo 38 Isaías recebeu a incumbência e ir avisar o rei sobre a proximidade da sua morte: “Põem em ordem a tua casa porque morrerás..”(38.1).
O rei Ezequias mais uma vez se colocou em oração suplicando a Deus contra a sentença recebida. E mais uma vez Deus atendeu a oração de Ezequias e Isaías foi de novo incumbido de levar ao rei o recado divino, agora apresentando uma notícia boa ao rei: Deus lhe acrescentaria 15 anos de vida.
O capítulo 39, parece registrar um episódio de menor importância, quando Ezequias recebeu a visita de embaixadores de um país estrangeiro que vieram lhe apresentar votos de congratulações pela saúde recuperada.
Como retribuição de tal prova de amizade e simpatia, Ezequias, com um espírito aberto, mostrou aos visitantes toda a sua casa e seus tesouros.
Logo depois, Isaías foi a Ezequias com mais uma mensagem divina. Aqueles estrangeiros, vindos de uma terra remota logo estariam de volta.
E não mais viriam para olhar os tesouros e a casa de Ezequias, mas voltariam para levar embora as riquezas e a própria família real.
Estes estrangeiros eram da Babilônia e mais uma vez Deus lembrava, pela boca de Isaías que o tempo de castigo estava se aproximando.
Deus livrou Ezequias, Jerusalém e todo Judá dos assírios, por que não seriam estes os castigadores divinos. Mas o castigo estava próximo, e se o povo não corrigisse os seus erros os Babilônios chegariam para cumprir os desígnios divinos.
E assim chegamos ao final da primeira par-te do livro de Isaías, conhecida pela sua ênfase condenatória, e a partir do próximo encontro, estaremos na parte Consolatória dos 27 capítulos finais de Isaías.