Mateus caps. 14 e 15
Preparado e Ministrado por Gerson Berzins
Caros ouvintes, em continuação a esta nossa série de reflexões no Evangelho
segundo Mateus, hoje nos encontramos para nos deter nos capítulos 14 e 15 deste relato da vida de Jesus.
No capítulo 14 dois episódios bastante relevantes no ministério de Jesus Cristo são apresentados, além de sermos informados a respeito da morte de João Batista.
A primeira multiplicação dos pães nos é relatada pelo evangelista a partir do v. 13, e por mais que conheçamos e amemos este milagre de Jesus, voltarmos a ela nos enseja renovadas lições para a nossa vida e para o nosso comprometimento com a implantação do reino dos céus aqui na terra.
Este é o único dos milagres do Senhor Jesus Cristo relatados em todos os 4
evangelhos, e este episódio marca o início de uma nova fase do ministério do Mestre, conhecida como a época das retiradas, quando Jesus procurou se afastar das grandes aglomerações para gastar mais tempo com os seus discípulos em privacidade, embora veremos que seguidamente os discípulos falham em compreender o completo sentido do que o Mestre lhes está querendo transmitir.
O verso treze nos situa nesta fase, ao relatar que tão logo ouviu da morte de João Batista, Jesus se apartou para um lugar deserto, mas a multidão não respeitou o seu desejo de isolamento e o segue.
A visão da grande multidão que o busca, faz Jesus se compadecer dela e ministrar a todo o povo, curando os seus enfermos.
A ministração de Jesus traz uma preocupação crescente aos discípulos, à medida que a noite chega e o lugar ermo não propicia nenhuma condição de saciar toda aquela gente, e assim pedem que Jesus encerre a sua ministração e despida a multidão para que ela possa voltar às aldeias e se prover do
alimento necessário.
Jesus não deseja a dispersão da multidão, e pede que os discípulos cuidem de alimentá-la.
Mas não havia recursos suficientes para tal empreitada, pois o que havia de alimento disponível se resumia a 5 pães e 2 peixes, e Jesus tomando este alimento o abençoa e ele se torna suficientes para saciar toda a multidão.
Somos levados a atentar para dois contrastes fortes neste episódio: O
primeiro, que nos é lembrado mais uma vez pelos comentários do pr. James
Montgomery Boice, é o contraste entre o banquete de Herodes, relatado nos
primeiros versos do capítulo e este banquete das multidões, em que se saciaram 5.000 homens, mais mulheres e crianças.
A festa de Herodes era a festa de aniversário de um rei, que aconteceu em
um palácio, para convidados importantes e bem selecionados, que transcorreu entre bebedeiras e danças licenciosas, terminou requerendo a morte de um inocente, João Batista, e foi a completa expressão de uma festividade de satisfação carnal.
A multiplicação dos pães, relatada imediatamente em seqüência é contrastadamente uma festividade de outra categoria: Era a festa de um pregador Galileu, que ocorreu em um lugar esquecido no meio do deserto, com o objetivo de saciar os anseios espirituais de uma multidão anônima de gente comum.
A festa transcorreu entre milagres de curas e exemplos do Mestre e terminou com a alimentação de toda a multidão e foi assim uma antecipação da festa celestial, quando povos de todas as nações e tribos se juntarão para as bodas do cordeiro.
Estas diferenças entre as duas celebrações explicam-se facilmente pelo fato de que Herodes não estava preocupado com ninguém a não ser ele próprio, enquanto Jesus se preocupa, e sempre se preocupava, com os necessitados que o buscam para serem cuidados, curados, ensinados e alimentados.
A preocupação do Mestre com os outros é exemplar neste episódio, pois o faz se desviar do seu objetivo de isolamento com os seus mais próximos, para poder se dar, em compaixão por todos aqueles que o buscam.
O segundo contraste que deve ser ressaltado é entre a atitude de Jesus e a dos seus discípulos com relação à multidão e a sua necessidade de alimentação.
Vislumbramos os discípulos altamente preocupados com a questão, e temos que ver nesta preocupação o cuidado que eles também tinham com todos aqueles que foram procurar a Jesus.
Não queriam vê-los desfalecendo esfomeados e vendo as horas do dia se esgotarem, chegam a conclusão que era necessário que o Mestre terminasse
de atender o povo e os despedisse para casa.
Vemos que a preocupação dos discípulos e tão legítima que eles já tinham
levantado as alternativas que dispunham, e tinham contabilizado tudo com o que poderiam contar.
Podemos pensar: eles estavam certos. Foram previdentes.
Anteciparam-se a um problema que poderia ter conseqüências desagradáveis.
Agiram para provocar a solução. Mas, em contraste vemos a postura de Jesus: O povo “Não precisam ir embora” (v.16).
A ótica de olhar a questão é totalmente diferente para Jesus. A multidão o procurou e a multidão deveria receber o que veio buscar.
As questões acessórias deveriam ser resolvidas acessoriamente. Se os discípulos não podiam resolver a questão, e definitivamente não podiam, Jesus agiria, e assim ele fez.
Creio que fica para nós muito forte a lição desta primeira multiplicação dos pães: A compaixão pelas necessidades espirituais humanas, e a prioridade total de saciá-las, colocando os recursos que temos a disposição do Senhor, e deixando que o Senhor faça aquilo que nós não podemos fazer para cumprir a missão.
O segundo episódio relevante que encontramos neste capítulo 14 é o relato
de Jesus andando sobre o mar, indo de encontro ao barco dos discípulos no meio de uma tempestade.
A lembrança deste episódio nos faz refletir sobre a nossa própria fé, ao nos compararmos com as atitudes de Pedro.
Em primeiro lugar, o nosso conhecimento de Deus nos leva ao desejo de uma ação de fé: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas” (v.28)
Cremos em Deus, reconhecemos o seu poder e desejamos, isto é temos fé, que o seu poder se possa fazer real em nossa circunstância.
Então vem a prova da fé. A força do vento traz o medo a Pedro; o medo faz vacilar a sua fé; e aquilo que ele achava que era possível já não era mais. A confiança de fé, do primeiro momento, agora se torna em pedido de socorro: “Senhor, salva-me” (v.30), confiando que o Senhor Jesus estava próximo o suficiente para livrá-lo dos seus temores.
E a mão do mestre o segura para que ele pudesse completar o que desejou fazer. Como a Pedro, a advertência do Mestre também é para nós: “Homem de pouca fé, porque duvidaste?” (v.31).
Como Pedro em noite de tempestade no mar, devemos aprender a confiar naquele que deve ser o único depositário de nossa fé.