Mateus caps. 19 e 20
Preparado e Ministrado por Gerson Berzins
Amigos e irmãos ouvintes, com alegria podemos mais uma vez nos encontrar neste propósito de continuar as reflexões no Evangelho segundo Mateus.
Nesta oportunidade nos compete considerar os capítulos 19 e 20 do relato bíblico.
Vamos nos situar na seqüência do que Mateus nos quer apresentar.
Dos 28 capítulos desse evangelho, os 2 primeiro são dedicados a nos apresentar fatos relacionados à infância e juventude de Jesus Cristo, antes do início do seu ministério público.
Nos 18 capítulos seguintes, do 3 ao 20, estão sumarizados os 3 anos do ministério público do Mestre, nos apresentando seus deslocamentos, seus
ensinos e suas realizações.
Assim, hoje estaremos terminando esta etapa do relato de Mateus.
A partir do capítulo 21, 7 capítulos inteiros são dedicados à apresentação dos acontecimentos da última semana de Jesus, desde que ele chega a Jerusalém, no domingo, até a sua crucificação e sepultamento, ocorridos na sexta-feira seguinte.
E o último capítulo do livro é dedicado ao relato da ressurreição e dos acontecimentos subseqüentes, até a ascensão do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Vemos por esta distribuição que, proporcionalmente, a última semana do
ministério de Jesus recebe muito mais destaque, e dos 3 anos do ministério
público do Mestre temos uma apresentação mais sucinta.
Destes 3 anos do chamado ministério público de Jesus, sabemos que em boa
parte dele, Jesus esteve baseado em Cafarnaum, de onde se deslocou em diversas viagens pela Galiléia.
Por diversas outras vezes Jesus deixou o território judeu e ensinou e curou em regiões da Fenícia, Cesaréia de Felipe, Decápolis e na região da Peréia. Por 4 vezes Jesus se dirigiu a Jerusalém e a região da Judéia.
A 1a. No início do seu ministério, quando foi batizado por João Batista (Mat. 3.1 e 13), e quando ocorreu a primeira purificação do templo de Jerusalém, que só João registra (Jo. 2.13-22).
A 2a. vez Jesus foi para uma celebração religiosa não especificada (Jo. 5.1).
A 3a. vez, cerca de 6 meses antes da sua morte, Jesus subiu para a Festa dos Tabernáculos (Jo.7) .
A ultima vez, Jesus sobe para a festa da Páscoa, quando vai ser preso, julgado e crucificado.
O nosso texto de hoje já está inserido nesta viagem final em direção a
Jerusalém, como vemos em 19.1 e 21.1.
Constitui-se portanto em uma das derradeiras oportunidades do Mestre com
os seus discípulos, antes de se iniciarem os turbulentos e acelerados
acontecimentos em uma Jerusalém fervilhando de multidões que para lá
ocorriam na mais importante festa religiosa do judaísmo, a Páscoa.
Do texto dos capítulos 19 e 20, destacam - se alguns trechos para a nossa reflexão.
A partir do v.16 – cap.19 temos o encontro de Jesus com um jovem rico, que
cioso e orgulhoso do seu conhecimento e obediência da lei de Moisés, queria
certificar-se com o Mestre sobre o que lhe faltava para conseguir a vida eterna.
Não conseguimos entender se o jovem sinceramente buscava sanear a sua dúvida, ou se, movido de um legalismo obtido do seu conhecimento e observância da lei, queria testar a Jesus, ou até buscar uma aprovação do Mestre.
O fato de Jesus já repreender o moço pelo modo como ele formulou a saudação inicial, nos deixa a impressão que o Mestre sabia que intenções sinceras não haviam naquele coração.
O que é realmente importante considerar neste relato é nos perguntarmos
o que é que a nós impede de estar mais próximos de Deus e mais compromissados com Ele.
Aquele jovem estava disposto a todo sacrifício e dedicação, desde que a sua riqueza fosse preservada.
Ele não estava disposto a abrir mão dela, e afastou-se de Jesus por não querer cumprir tal requerimento.
E para nós, qual é o impedimento? Para alguns de nós talvez seja a mesma riqueza, ainda que pequena.
Para outros, é a busca da glória pessoal, para outros ainda, comodidades,
conveniências, posição e tantas outras coisas.
O v. 21 contém para nós o mesmo desafio que o moço teve de enfrentar: O
pedido para renunciarmos a algo que é precioso demais para nós, para só então poder atender o pedido seguinte: “... vem, segue-me”.
Este diálogo de Jesus com o moço impressionou profundamente os discípulos
que através de Pedro perguntam ao Mestre: “Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos: que recompensa, pois, teremos nós?” (v.27).
A resposta que Jesus deu deve encorajar-nos a não agir como o moço,
sendo capazes de renunciar àquilo que eventualmente temos colocado como
prioridade acima do Reino de Deus: “E todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna”. (v.29).
Outro destaque está nos primeiros 16 versos do cap. 20: A parábola dos
trabalhadores.
É um ensino bastante intrigante, pois nos parece não respeitar preceitos simples de justiça, quando aqueles que trabalharam o dia inteiro recebem exatamente o mesmo daqueles que trabalharam somente algumas poucas
horas. De fato, ao atentarmos para as parábolas que Jesus tão abundantemente utilizou como recurso didático, percebemos que o elemento surpresa, e a evolução inesperada da estória fazem parte relevante da parábola, para prender a atenção dos ouvintes, os levando a refletirem sobre o que o Mestre estava querendo ensinar.
Aqui, o ensino não é sobre justiça. É sobre comprometimento com o Reino de Deus e principalmente sobre a importância de cada um para o reino.
Quem vier a trabalhar, mesmo que por pouco, terá a recompensa igualmente.
A partir do verso 21, mais uma vez Jesus instrui os discípulos sobre o que lhes
esperavam em Jerusalém.
Este é a terceira vez que o Mestre aborda este tema. Já o apresentou como relatado em 16.21 e em 17.23, mas como os fatos futuros demonstrarão, estas 3 vezes não foram suficientes para efetivamente preparar os discípulos para enfrentarem o que lhes estava reservado.
Jesus já antecipando a sua morte e se preparando e preparando os seus, e então chega a mãe de Tiago e João (v.20 e sgs), totalmente desintonizada com
o momento e pede ao Mestre primazia para os seus filhos.
Mais uma vez o texto deve servir como um espelho para refletir, através dos outros, a nossa condição.
Não deixemos que preocupações mundanas e as vaidades humanas nos
afastem do verdadeiro propósito da nossa vida espiritual, qual seja a busca do nosso crescimento espiritual e do nosso completo comprometimento com o reino de Deus.